quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Tédio

Uma das questões mais frequentes que as pessoas me fazem quando sabem que eu escrevo (além de "A sério?!") é de onde me vêem as ideias para as histórias. A minha resposta habitual é que as ideias vêem de todo o lado, de tudo o que vejo, de tudo leio, de tudo o que aprendo de novo.

É uma boa resposta, mas apercebi-me hoje que talvez não seja a resposta certa, ou pelo menos não a resposta completa.

O banco de informação que vou acumulando tem certamente uma parte importante no surgimento das ideias e no próprio processo de escrita. Afinal, nada surge do nada e penso que todos aqueles que gostam de ler sabem que autores com conhecimentos pouco diversificados tendem a produzir livros ocos e repetitivos.

No entanto, tem de haver mais qualquer coisa a espoletar o processo, qualquer coisa que agrege noções ou pedaços de informação até então distintos para formar aquilo que pode ser a semente de uma história.

No meu caso, estou agora firmemente convencida, essa coisa é o tédio. O que explica porque tantas das minhas ideias ao longo dos anos foram surgindo em viagens longas, aulas aborrecidas, salas de espera...

O cérebro enfastia-se e começa a brincar com o que tem dentro, a sobrepor coisas, a cortá-las e baralhá-las. Parte das vezes, sai disparate, mas também há coisas úteis a surgirem destes momentos: a resolução de uma falha no nosso projecto actual, um pormenor que vai adicionar outra dimensão à história, uma construção frásica que nos encanta.

E, de vez em quando, aparece a tal ideia: a que nos entusiasma e nos faz querer largar seja o que for que estejamos a fazer e escrever até sermos obrigados a parar.

1 comentário:

Pedro Guilherme-Moreira disse...

Para mim, nunca foi o tédio:). Mas fico muito feliz por ver alguém buscar a natureza das palavras que lhe vêm aos dedos. Ser escritor é algo tão perturbante, tão fascinante, tão inefável, que nós próprios nos pensamos:).