Há uns meses, alguém num dos fora que frequento regularmente lançou a pergunta "Porque escrevem?". As respostas foram muitas e variadas e, na maior parte, bastante longas também. A mim tudo o que me ocorreu dizer foi:
Escrevo porque não escrever simplesmente não é uma opção.
Hoje, fui confrontada mais uma vez com a verdade desta afirmação, com o nível a que a escrita está entranhada em mim.
Estava a ver um documentário qualquer sobre o Bornéu. O costume: elefantes, símios vários, muitos insectos. E também um grupo de pessoas a escalarem um planalto no meio da selva para estudar o ecossistema único no topo.
O líder da expedição estava a falar sobre ter de ser cuidadoso com as pedras soltas, não só por arriscar perder o equilíbrio, mas sobretudo por causa do perigo de fazer uma dessa pedras cair sobre as cabeças de quem vinha atrás. O que me ocorreu imediatamente foi que se um alpinista não gostasse de alguém do seu grupo de escalada, essa seria uma boa maneira de se livrar da pessoa em causa.
Lembrou-me a velha anedota sobre a mulher cujo marido fugiu com a criada e cuja reacção imediata foi transformar o acontecido numa história. Não escrever não é uma opção.
Estou permanentemente a escrever. Mesmo quando não estou sentada ao computador, ou com papel e caneta, ainda estou a escrever, porque pôr as palavras no papel é só a ponta do icebergue.
Por isso, basicamente, quando se é escritor, não há dias de folga. A escrita está em tudo, está sempre lá, mesmo que não nos apercebamos disso. De certa maneira, é uma simbiose estranha: a escrita domina a nossa vida, mas dá-nos 1000 outras vidas em troca. Não é um mau negócio.
O lado mau? Quando não estamos a escrever quase nem nos sentimos vivos.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
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1 comentário:
Estranhamente interpretas com muita precisão aquilo que penso da escrita. Sinto-me miserável quando não escrevo e nesses dias, passo o dia a pensar no que tenho para escrever, nas cenas nas personagens, nas palavras. É viciante!
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